ARQUEOLOGIA IBEROAMERICANA - ISSN 1989-4104
ARTÍCULO de investigación • Vol. 48 (2021), pp. 44-54 • PDF 3.41 MB • english


Luis Carlos Duarte Cavalcante,1 Antonio Lucas Vitorino de Sousa,1
Heralda Kelis Sousa Bezerra da Silva,1 Marcelo Fagundes,2
José Domingos Fabris,3 José Domingos Ardisson 4

(1) Laboratório de Arqueometria e Arte Rupestre, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, Piauí, Brasil
(2) Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina, Minas Gerais, Brasil
(3) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
(4) Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
(cavalcanteufpi@ufpi.edu.br)


Arqueol. Iberoam.


Resumo
Amostras representativas dos diferentes padrões de queima das cerâmicas do sítio arqueológico Ribeirão Canoas III, localizado em São Gonçalo do Abaeté, Minas Gerais, Brasil, foram investigadas por fluorescência de raios X por dispersão de energia (EDXRF), análise elementar por CHN, difratometria de raios X pelo método do pó e espectroscopia Mössbauer do 57Fe nas geometrias de transmissão e de retroespalhamento de raios gama; exames físicos foram realizados sob estereomicroscópio e microscópio óptico. O teor de ferro nesses materiais cerâmicos, determinado por EDXRF, aqui expresso na forma de Fe2O3, é da ordem de 3,7 a 7,9 massa% e o teor de carbono, obtido por análise elementar CHN, é de ~0,7 a ~1,5 massa%. Os dados Mössbauer mostram que algumas espécies ferruginosas apresentam ordenamento magnético na temperatura de 25 K, revelando sextetos com linhas de ressonância muito alargadas, com campos magnéticos hiperfinos atribuíveis à hematita, sugerindo tamanho médio de partículas muito pequeno. Há também um sexteto com campo hiperfino próximo de 45 tesla, atribuível à goethita, e dois dupletos devidos a Fe3+ e Fe2+. Um ensaio com ímã de mão praticamente não atrai partículas das amostras em pó, indicando a ausência de espécies magnéticas. A pasta cerâmica contém ainda quartzo, muscovita, rutilo, anatásio e feldspato. Dos resultados assim obtidos, é possível traçar algumas características gerais desses materiais, como: (i) os teores de Fe2+ apontam que as peças foram queimadas em ambiente redutor; (ii) em um intervalo de temperatura não inferior a 525 °C, pela ausência de caulinita, e não superior a 700 °C, pela ocorrência de muscovita e pelos traços residuais de carbono; e (iii) em fogueira a céu aberto. Considerando-se que o campo magnético hiperfino de ~45 tesla, das amostras RCIII.006 e RCIII.027, seja de goethita magneticamente ordenada na temperatura de 25 K, com tamanho muito pequeno de partículas, que foi termicamente protegida durante a queima, presume-se que a cocção dessas peças cerâmicas tenha ocorrido em temperatura muito próxima de 525 °C.

Palavras-chave
Cerâmica arqueológica; espécies ferruginosas; ambiente de queima; temperatura de queima; espectroscopia Mössbauer; arqueometria.

Fechas
Recibido: 30-9-2021. Aceptado: 9-10-2021. Publicado: 18-10-2021.

Cómo citar
Cavalcante, L. C. D.; A. L. V. Sousa; H. K. S. B. Silva; M. Fagundes, J. D. Fabris, J. D. Ardisson. 2021. Análise arqueométrica e identificação de parâmetros de queima de cerâmicas do sítio arqueológico Ribeirão Canoas III, São Gonçalo do Abaeté, Minas Gerais, Brasil.
Arqueología Iberoamericana 48: 44-54.

Otros identificadores persistentes

Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelas bolsas de Produtividade em Pesquisa concedidas a LCDC (Processo # 315709/2020-0) e JDF (Processo # 304958/2017-4) e pela bolsa de Iniciação Científica concedida a ALVS (Processo # 138742/2017-0), à Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP; Chamada Pública MCT/FINEP/CT-INFRA – PROINFRA 01/2009, Referência # 0813/10). Os autores também agradecem ao Sr. Luiz Carlos da Silva (CDTN) pelas medidas de EDXRF, ao Sr. João Batista Santos Barbosa (CDTN) e ao Sr. Luciano Clécio Brandão Lima (LIMAv/UFPI) pelas análises de DRX, e ao Sr. Abraão José Silva Viana (UFVJM) pelas medidas de CHN.

Referências

Brett, N. H.; K. J. D. Mackenzie; J. H. Sharp. 1970. The thermal decomposition of hydrous layer silicates and their related hydroxides. Quarterly Reviews, Chemical Society 24: 185-207. Google Scholar.

Canotilho, M. H. P. C. 2003. Processos de cozedura em cerâmica. Bragança: Instituto Politécnico de Bragança. Google Scholar.

Cavalcante, L. C. D. 2015. Arqueometria em sítios de arte rupestre da região arqueológica de Piripiri, Piauí, Brasil. Cadernos do CEOM 28, 43: 7-19. Google Scholar.

Cavalcante, L. C. D.; H. K. S. B. Silva; J. D. Fabris; J. D. Ardisson. 2017. Red and yellow ochres from the archaeological site Pedra do Cantagalo I, in Piripiri, Piauí, Brazil. Hyperfine Interactions 238: 22. DOI. Google Scholar.

Cavalcante, L. C. D.; J. W. L. Sousa; H. K. S. B. Silva. 2019. Análise químico-mineralógica e parâmetros de queima de cerâmicas do sítio arqueológico Entrada do Caminho da Caiçara, Brasil. Arqueología Iberoamericana 43: 20-34. PURL. DOI. Google Scholar.

Chmyz, I. 1976. Terminologia arqueológica brasileira para a cerâmica. 2.ª ed. Cadernos de Arqueologia 1: 119-148. Google Scholar.

Cornell, R. M.; U. Schwertmann. 2003. The Iron Oxides: Structure, Properties, Reactions, Occurrences and Uses. Weinheim: Wiley-VCH Verlag GmbH & Co. KGaA. Google Scholar.

Fagundes, M.; L. A. Silva; I. M. S. Cordeiro; A. M. Bandeira. 2015. Conjuntos líticos de horticultores ceramistas associados à tradição Aratu-Sapucaí: estudo de caso dos sítios Mato Seco e Canoas, médio vale do São Francisco, Minas Gerais. Revista Tarairiú 1, 9: 7-40. Google Scholar.

Häusler, W. 2004. Firing of clays studied by X-ray diffraction and Mössbauer spectroscopy. Hyperfine Interactions 154: 121-141. Google Scholar.

JCPDS (Joint Committee on Powder Diffraction Standards). 1980. Mineral Powder Diffraction Files Data Book. Pennsylvania: Swarthmore.

Klingelhöfer, G. et alii. 2004. Jarosite and hematite at Meridiani Planum from Opportunity's Mössbauer spectrometer. Science 306, 5702: 1740-1745. Google Scholar.

Lage, M. C. S. M.; L. C. D. Cavalcante; G. Klingelhöfer; J. D. Fabris. 2016. In-situ 57Fe Mössbauer characterization of iron oxides in pigments of a rupestrian painting from the Serra da Capivara National Park, in Brazil, with the backscattering Mössbauer spectrometer MIMOS II. Hyperfine Interactions 237: 49. Google Scholar.

Machado, J. S. 2006. O potencial interpretativo das análises tecnológicas: um exemplo amazônico. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia 15-16: 87-111. Google Scholar.

Nunes, K. P. 2009. Estudos arqueométricos do sítio arqueológico Hatahara. Dissertação de Mestrado, Ciências – Tecnologia Nuclear. São Paulo: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Google Scholar.

Pelegrin, J.; C. Karlin; P. Bodu. 1988. «Chaînes opératoires»: un outil pour le préhistorien. In Technologie préhistorique. Notes et Monographies Techniques 25, pp. 55-62. Paris: Éditions du CNRS. Google Scholar.

Rice, P. M. 1987. Pottery Analysis: A Source Book. Chicago: University of Chicago Press. Google Scholar.

Shepard, A. O. 1956. Ceramics for the Archaeologist. Washington, D. C.: Carnegie Institution of Washington. Google Scholar.

Stanjek, H.; W. Häusler. 2004. Basics of X-ray Diffraction. Hyperfine Interactions 154: 107-119. Google Scholar.

Wagner, F. E.; U. Wagner. 2004. Mössbauer spectra of clays and ceramics. Hyperfine Interactions 154, 1-4: 35-82. Google Scholar.


Licencia Creative Commons

© 2021 ARQUEOLOGÍA IBEROAMERICANA. ISSN 1989-4104. Licencia CC BY 3.0 ES.
Revista científica editada por Pascual Izquierdo-Egea. Graus & Pina de Ebro, Spain.
Compatible W3C HTML 4.01. Contacto